MOBILIDADE URBANA / TRÂNSITO / TRANSPORTE

Um dos principais temas desta campanha à prefeitura deve ser o caos no trânsito, que ameaça parar a cidade. Como pretende abordar o problema?

Há um fator cultural forte em torno dessa questão. O carro próprio é sinônimo de sucesso na vida. Existe uma publicidade pesada, além desse crédito maluco para comprar carro em 90 prestações. Não se fala mais em carro para a família, mas para cada pessoa da família. Fazer o quê? Todo candidato vai dizer que é preciso melhorar o transporte público. Mas não adianta colocar mais ônibus na rua sem planejamento. Veja o caso da Paulista: se você passar lá agora, vai encontrar o corredor de ônibus parado. O melhor seria reduzir o número de linhas e fazer os ônibus andarem. Em outros lugares, é preciso criar linhas.

E o metrô?

É caro e demorado. Deveria ter sido feito com mais agilidade nas últimas décadas. Hoje precisamos de uma solução combinada, com mais metrô, mais obras viárias. A questão do trânsito é um mundo inteiro, que envolve um planejamento muito amplo. Temos ao nosso redor bairros e cidades da região metropolitana que funcionam como dormitórios, com baixíssima atividade econômica e equipamentos públicos e privados deficientes. Isso obriga as pessoas a se locomoverem para a região central de São Paulo: um êxodo diário de milhões de pessoas.

O que acha da idéia de reduzir o tráfego na área central da cidade com o uso do pedágio urbano?

Sou a favor. Numa cultura onde o automóvel é supervalorizado, as pessoas não usam seus veículos apenas por necessidade ou falta de alternativa. Usam porque estão acostumadas, porque não se dispõem a andar 200 metros até o ponto de ônibus, a esperar e a viajar ao lado de outras pessoas. Apóio mecanismos que desestimulem o uso do carro.

Não acha que é preciso primeiro melhorar o transporte coletivo, para depois restringir a circulação?

Os políticos falam isso porque têm medo da reação das pessoas. O pedágio urbano, porém, não é uma invenção política: é uma questão técnica. Ele desestimula o uso do automóvel onde você não pode se queixar da falta de oferta de transporte coletivo, que é exatamente o caso da região central.

BICICLETA

Quando você começou a andar regularmente de bicicleta e o que te fez tomar essa decisão?

Comecei a querer andar de bicicleta há pouco tempo, quando fui convencida de que era mais fácil do que me parecia... Mas só tomei a iniciativa para valer quando roubaram a minha moto e decidi incorporar a bicicleta como uma das alternativas de transporte (junto com ônibus, metrô, táxi e o meu próprio carro).

Agora já comprei outra moto, mas me obrigo a sair de casa de bicicleta pelo menos uma vez por semana, por quatro motivos: porque é meu dia de contribuir com o trânsito (ocupo menos espaço) e a qualidade do ar (bicicleta não polui!); é um modo de fazer atividade física (sou meio sedentária...); é o melhor jeito de verificar as condições oferecidas para os ciclistas na cidade; e, por último: porque em algumas situações chega a ser mais rápido e é mais gostoso.

Para quais lugares você vai de bicicleta? Qual lugar você mais gosta de ir? Qual a diferença entre ir de bicicleta e e ir de carro? O que é melhor? Há algo pior?

Vou para o trabalho, que não é tão longe assim da minha casa (cerca de 4km); vou para algumas reuniões e consultas médicas, qdo dá para pedalar até o destino ou combinar com o metrô (minha bicicleta é dobrável e pode embarcar em qualquer dia da semana); às vezes vou ao cinema ou à casa de algum amigo. De bicicleta, você repara muito melhor no caminho, não tem nem comparação. Vê as casas, as árvores, as pessoas. Claro que também pode ser perigoso, pelas más condições das vias, a falta de estrutura para ciclistas... Pode ser tenso, porque muitos motoristas não respeitam, e cansativo. Mas também pode não ser! Às vezes você fica mais tenso no congestionamento... Pedalar é gostoso.

Por que, quando a gente é criança, andar de bicicleta é tão bom, mas quando a gente fica adulto o bom é carro?

Boa pergunta! A gente é bobo e compra a idéia, vendida por muitos, de que não dá para ser feliz sem um automóvel... E fica preguiçoso e mal acostumado. Esquece o prazer de se deslocar por aí com o próprio esforço, em contato com o mundo externo...

Em países mais desenvolvidos que o nosso, como França ou Holanda, em que mais pessoas têm dinheiro para comprar carro, a bicicleta aparece mais que em nossas grandes cidades? Por que?

Provavelmente porque aqui a gente tem mais forte a idéia do automóvel como símbolo de sucesso, realização, "status". A gente não usa o carro só por necessidade de locomoção, mas também como forma de afirmação.

O que se pode fazer para mudar essa mentalidade?

Em parte, precisamos cultivar outros valores, de modo que as pessoas não dependam tanto da posse e exibição de um objeto, seja ele qual for, para se sentirem felizes e realizadas... E demonstrar que andar de bicicleta (ou de ônibus e metrô) não só não é motivo para vergonha, muito pelo contrário, como pode ser vantajoso e prazeroso. Claro que é preciso melhorar as condições do transporte público e a infra para bicicletas, mas também precisamos fazer campanhas bacanas para incentivar o seu uso. (Na Europa eles também fazem isso).

Muita gente julga menor a questão das bicicletas em meio aos problemas mais "sérios" do transporte público, como a melhoria das estradas ou das ferrovias. O que você acha disso? Porque a questão da bicicleta como transporte precisa ser retomada?

Não há dúvida que o transporte coletivo deve ter prioridade. Mas, pra começar, uma coisa não impede a outra - o investimento necessário em obras viárias para bicicletas é muito, muito inferior aos investimentos nos outros meios de transporte e circulação. E uma bicicleta pode, efetivamente, significar um veículo motorizado a menos no trânsito - o que significa mais espaço na rua, menos poluição, menos gases de efeito estufa (não é à toa que cientistas do Painel de Estudos de Mudanças Climáticas da ONU recomendam o investimento nas bikes!) e a possibilidade de uma convivência mais humanizada.

A bicicleta pode, em muitas situações, substituir um automóvel e o seu uso ser integrado aos transportes coletivos, com a instalação de bicicletários nas estações ou a possibilidade de entrar com ela nos trens ou metrôs. Essa integração de vários meios é a melhor solução para as grandes cidades.

Você acredita que, num mundo tão "corrido" quanto o nosso, o Brasil consiga seguir o exemplo de alguns países e comece a preferir a bike ao invés do carro?

Acredito. Em algumas cidades do interior e do litoral as bikes já são muito usadas cotidianamente - até em uma grande capital como o Rio de Janeiro, que tem uma boa estrutura nas praias da Zona Sul. E mesmo em São Paulo, cujo sistema viário ainda é tão hostil, mais de 300 mil pessoas se locomovem de bicicleta todos os dias. Se a infra melhorar (ciclovias, ciclofaixas, bicicletários nas estações de trem e terminais de ônibus, etc.), mais gente vai querer aderir, com certeza. É barato, é gostoso, não polui... E às vezes é até mais rápido!

Há planejamento político em São Paulo (e até mesmo em outras grandes cidades) quanto ao incentivo à bicicleta em vez do carro/moto, no sentido de diminuir o trânsito, a poluição e melhorar o condicionamento físico da população?

Está começando a haver... As iniciativas ainda são tímidas, mas muito maiores do que alguns anos atrás. Há ciclovias em construção; algumas estações de trem e de metrô têm bicicletários; o metrô e os trens metropolitanos deixam entrar de bicicleta no fim-de-semana... Além disso, tem o Dia Sem Automóvel no calendário oficial, para promover, digamos, um "mutirão" de conscientização. E já tem até medidas da iniciativa privada, como da Porto Seguro (São Paulo) e a Sulamérica (no Rio) - curiosamente, duas empresas que trabalham com seguros de automóveis...

MOTO

Qual foi a sua primeira moto, por que escolheu esse modelo e ainda usa essa mesma moto?

Não foi uma moto, foi uma Vespa... 86, vermelha, partida no pedal. Ela era do meu irmão, que já não era o primeiro dono! Fiquei com ela de 1990 até o ano passado.

Qual sua moto atual, marca, modelo e ano? (se tiver mais de uma, qual é a sua favorita e por quê?)

Tenho uma Honda Bros (NX 150), preta, 2006.

Por que você passou a usar moto. É por causa do problema de trânsito ou algum outro motivo? O uso é mais voltado para o trabalho ou para o lazer?

Por causa de trânsito e distância. Eu morava e trabalhava em Santana (Zona Norte) e estudava na USP (Sudoeste). De ônibus, chegava a levar três horas para estar lá. De carro, uma hora... O trânsito já era insuportável. O único jeito de eu conseguir continuar estudando era ter uma moto. Uso quase todo dia, é meu principal veículo.

Pode contar alguma história ou acontecimento inusitado com sua moto ou scooter? Ela tem alguma característica diferente ou inusitada?

Quando eu tinha a Vespa, ela volta e meia me deixava na mão... E quebrava nos lugares mais inóspitos. Às vezes eu não tinha escolha, largava ali mesmo e chamava o resgate no dia seguinte - ou até dois dias depois. Mas Vespa, felizmente, não era objeto de desejo de ladrão. A ponto de duas ou três vezes a polícia ter me procurado em casa: "A senhora teve uma Vespa roubada?". "Xi, levaram?". "Sim, mas nós localizamos. Foi abandonada ao lado da linha de trem" - que era onde eu tinha deixado!