Enfim, ocorreu um debate legítimo entre os concorrentes à Prefeitura de São Paulo na noite desta quinta-feira, 11 de setembro (invadinho a madrugada de sexta), na Rede Bandeirantes: apesar de o discurso dos líderes nas pesquisas ser praticamente idêntico, os candidatos trocaram farpas, subiram o tom do confronto e as máscaras começaram a cair.
Marta atacou Kassab, que atacou Alckmin, que atacou Marta, que atacou Alckmin, que atacou Kassab... e lá se foram duas horas e meia de debate com provocações, indiretas e comparações de números que não resistiriam a qualquer checagem um pouco mais rigorosa.
Trânsito e transporte
A primeira pergunta foi única para os oito candidatos: sobre medidas para melhorar o trânsito e o transporte na cidade. Soninha Francine (PPS) destacou três eixos - o transporte coletivo, a engenharia de tráfego e a reconfiguração urbana. A candidata do PPS citou, entre outras propostas, melhorias que devem ser feitas na Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). "Precisamos de mais recursos e melhor sinalização para melhorar a circulação de carros, motos e pedestres", propôs.
Entre as melhorias, mencionou "no transporte coletivo, aumentar o horário dos ônibus, melhorar o conforto e a informação sobre o sistema de ônibus, porque hoje descobrir as linhas é um desafio".
"Na engenharia de tráfego, a CET precisa de mais recursos, mais semáforos eletrônicos, melhorar as condições de circulação de motos e bicicletas", acrescentou.
Maluf x Soninha
Ao ser perguntado por Soninha sobre as medidas que tomaria para combater a corrupção caso fosse eleito, Paulo Maluf atacou: "Sobre a corrupção, acho que você está na 'ordem do dia', porque os jornais estão dando que você disse que alguns vereadores se vendem por dinheiro. Não existe corrupção sem corruptor. Me diga quem recebeu dinheiro e quem foi o prefeito que pagou, pois eu não fui", disse.
No último dia 5, durante uma sabatina do jornal O Estado de S. Paulo, Soninha levantou a suspeita de haver acordos e troca de favores entre os vereadores para a aprovação de projetos na Câmara Municipal.
Soninha rebateu dizendo que não é preciso ser vereador para ter conhecimento de casos de corrupção nos parlamentos e citou o caso do mensalão. "É preciso combater a corrupção 'desburocratizando' os processos que dão margem à corrupção", afirmou.
Na réplica, Paulo Maluf foi rude e insistiu: "Você não teve coragem de dizer os nomes. O que eu posso dizer é que fui prefeito com 6 bilhões (de reais) e fiz mais do que quem me sucedeu com 150 bilhões, e pode somar aí o Alckmin. Onde está o dinheiro das administrações atuais? Eu fiz mais com menos. E digo mais: entrei na política rico e hoje posso dizer que sou menos rico do que antes", garantiu o candidato.
Kassab x Soninha
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), pediu que Soninha falasse dos avanços em políticas ambientais registrados em sua gestão. Kassab disse que fez pela cidade o que não havia sido feito em 450 anos.
Soninha disse que ainda faltava muito por fazer, mas elogiou a gestão de Eduardo Jorge (PV) à frente da Secretaria do Meio Ambiente.
"Eduardo Jorge é uma das boas marcas dessa gestão", disse. "Cuida das gestões ambientais, e isso tem que ser mantido. Muitas coisas boas têm que ser mantidas. Uma lei que eu criei substitui material da prefeitura por matéria reciclável, por exemplo."
O secretário Eduardo Jorge foi nomeado por José Serra e permaneceu no cargo mesmo após a eleição do tucano para o governo do Estado.
Ainda assim, para Soninha, há muita coisa a ser feita. Como exemplo de problema grave, mencionou os córregos sujos. "Precisamos também investir em critérios ambientais para as compras da prefeitura. A coleta seletiva e a gestão de resíduos precisam melhorar", destacou.
A candidata Soninha apontou outros pontos negativos na gestão de Gilberto Kassab. "O secretário Eduardo Jorge defendeu o pedágio urbano e a restrição de circulação de veículos no centro, e o senhor recuou porquê? Além disso, o rodízio de caminhões criou problemas para a coleta seletiva. Essa gestão provocou situações difíceis para os catadores de lixo, que não têm oferta de melhores condições de trabalho", afirmou.
Soninha também acusou Kassab de promover uma "repressão" contra os catadores de lixo. "A repressão funcionou, mas a oferta de melhores condições de trabalho não."
Soninha x Marta
Questionada pelo jornalista José Paulo de Andrade sobre os corredores de ônibus, Soninha disse que já há planejamento para vários novos corredores e acusou Marta de não ter feito 100 km de pistas exclusivas, como a petista afirma. "os corredores começaram a ser feitos desde a gestão do Covas", disse. "Transporte coletivo tem que ter prioridade, mas não adianta se eles forem mal administrados, é preciso menos veículos, maiores e mais espaçosos, que percorram de fato o percurso do corredor", acrescentou.
Ivan Valente comentou que "é preciso que o ônibus flua, de corredor exclusivo, mas não sozinho, porque hoje as empresas lutam para entrar no corredor. E isso só será possível se criar uma empresa municipal para intervir."
Soninha concluiu que "tem de haver um esforço de gestão da prefeitura, que é dona das linhas, tem de exercer o poder regulamentador para melhorar a circulação. Além de ser preciso criar novas linhas, principalmente entre bairros, evitando viagens desnecessárias para quem não tem o centro como destino final, mas quer simplesmente ir de um bairro a outro."
Ciro x Soninha
Soninha questionou Ciro Moura sobre a existência da troca de favores e de corrupção na política, repetindo ironia do candidato, que dizia se sentir como Alice no País das Maravilhas, já que todos os problemas pareciam solucionados pelo discurso de quem já ocupou a Prefeitura ou o Governo do Estado.
"Pelo o que eu vi aqui, todo mundo governou e resolveu tudo. Você não tem mais problemas, tá tudo resolvido. Não tem mais problema de saúde, de segurança, todo mundo fez tudo", ironizou Ciro. "É preciso que você em casa não acredite em Papai Noel, chega dessa história de que todo mundo fez tudo. Olha pra São Paulo."
Soninha mencionou que de fato parecia que todos estavam num mundo ideal, em que ninguém havia sido preso por corrupção, ou que nenhum político teria deixado de ser condenado apenas em função da idade avançada ou por decurso de prazo - e que os acordos e loteamento de cargos não existissem.
"A troca na política é natural. Você não reinventou a roda, só chamou atenção para um assunto importante, pedindo transparência e pedindo que as trocas não sejam espúrias", afirmou o candidato do PTC, ressaltando a coragem de Soninha - em oposição à crítica de Maluf.
Soninha disse que em um "mundo ideal", projetos de lei não dependeriam de nada além de seu mérito para serem aprovados e pediu ainda que "a população possa referendar a escolha e a imprensa sabatinar os subprefeitos."
No último bloco, o candidato Ciro Moura voltou a afirmar: "Eu fiz aqui até alguma ironia mas de um assunto muito sério. Nós entramos no país das maravilhas, em que está tudo resolvido, não tem problema nenhum. A Soninha (PPS) poderia ter dito que quase foi agredida por uma vereadora do PT, mas preferiu não dizer."
O assunto do dia
Em suas considerações finais, Soninha agradeceu aqueles que acompanharam o debate até o final, "porque a política desanima muito às vezes, mas quanto mais as pessoas desistirem é pior." Ela lembrou que a política é muito importante e que é necessário fazer um esforço para superar seus problemas.
Ela voltou a tocar na tecla da ética, "no meu caso é muito fácil saber como eu penso, como eu ajo."
A candidata pediu àqueles que se identifiquem com ela e com suas propostas que exerçam seu direito de escolha.
Depois do debate, Soninha foi novamente questionada pela imprensa sobre as declarações que fez durante a sabatina no Estadão. "Isso não é nenhuma novidade, eu já venho falando isso há muito tempo, desde o meu primeiro ano de mandato. A aprovação dos projetos na Câmara não tem nada a ver com sua importância ou relevância. Por que isso acontece? Porque tudo na Câmara depende de acordos", disse a vereadora.
Ibope
O debate da Band registrou média de 4,1 pontos no Ibope. Chegou a ter pico de 6,3. Cada ponto na Grande São Paulo equivale a 56 mil domicílios.
O primeiro programa realizado pela emissora, no fim de julho, teve audiência de 3,5 pontos, com pico de 5 no Ibope.
Naquela época a campanha estava começando, ainda nem havia horário eleitoral.
Duas rodas
A candidata Soninha Francine (PPS) chegou para o debate da Rede Bandeirantes de moto e seu alarme disparou no meio da entrevista, no exato momento em que o tucano Geraldo Alckmin entrava no prédio da emissora.
No debate anterior ela não foi de moto, como normalmente faz, mas de bicicleta, atendendo ao pedido do movimentos dos ciclistas de São Paulo.